O segredo das Jabuticabas.
Era uma tarde ensolarada em algum lugar depois das montanhas. A brisa batia e o cheiro do campo invadia o espírito de quem vivia por ali. Então um garotinho, de aproximadamente uns doze anos, está correndo um pouco além do povoado. A sensação de liberdade é incrível! Não havia tanta maldade naquela época como existe hoje em dia. Animais pastavam tranquilamente e as pessoas viviam em comunhão. O garoto corre até que se depara com um dos idosos que moravam no povoado. O senhor estava plantando alguma coisa em uma parte do campo onde havia poucas árvores. Curioso, o menino se aproximou para saber o que ele fazia.
-Boa tarde moço! – disse ele com as mãos na cintura. Então o senhor levanta seus olhos e responde: - Boa tarde, filho! – após dizer isso, abaixa novamente sua cabeça e continua cavando. - O que o senhor está fazendo? – indagou o menino.
-Estou plantando Jabuticabas. - respondeu. - Você gosta?
-Sim! Adoro! - disse balançando a cabeça com os olhos arregalados.
-Eu também! – emendou o senhor sorrindo. O menino olhou para o idoso e retribuiu o sorriso.
-Moço, mas Jabuticaba não demora a crescer? – insistiu.
-Sim! Demora bastante a crescer. E uns vinte anos para que possa dar boas Jabuticabas. – respondeu o senhor com alegria.
-Entendi. – o menino sorriu ironicamente.
-O que foi? – questionou o idoso.
-Nada moço. – respondeu o menino, mas continuou olhando de rabo de olho.
-Pode falar. Acho que sei no que você esta pensando. – o idoso estava sorrindo ao dizer isso.
-Não sei pra que o senhor está plantando isso se sabe que demora tanto a colher...
-E eu provavelmente nem chegue a colher nenhuma jabuticaba, porque já sou bem velho não é? – completou o senhor.
-Sim... – respondeu o menino sem jeito após baixar a cabeça e por as mãos no bolso.
-Venha cá! – o menino sentou-se ao seu lado. Então o idoso parou o que estava fazendo, respirou fundo e olhou para o menino. – Não estou pensando em colher essas jabuticabas.
-Como assim? Então por que esta tendo o trabalho de plantar? – questionou o menino surpreso e sem entender o que acabara de ouvir.
-Bom, - prosseguiu o senhor. – estou plantando para que você possa colher um dia.
-Eu? Mas por quê? – continuou surpreso o menino.
-Porque é isso que sempre devemos fazer. Não estou fazendo pensando em mim. Estou pensando em você, nas outras crianças do povoado, nos seus filhos, talvez netos... – respondia o senhor com alegria. O menino sorriu. – Na vida devemos fazer o bem para todas as pessoas sem esperar receber nada em troca.
-O senhor é muito sábio! – comentou o menino satisfeito com o que havia acabado de aprender.
-Obrigado! – agradeceu o idoso e após isso, sorriu novamente. – Isso foi uma semente que plantaram em mim a muuuuuiiiito tempo atrás.
-Como assim? – questionou novamente.
-Bom, eu era um garotinho esperto como você. Muito sapeca e curioso. Sempre levado. Então um dia antes de dormir, meu avô me contou uma história diferente de todas as outras que já havia escutado. A história de um moço chamado Jesus. – o senhor estava bastante empolgado contando a história dele. – Você conhece o Jesus?
-Sim! Conheço muito bem! Meus pais sempre falam dele lá em casa. – o garoto estava interessado no assunto.
-Então, esse Jesus era filho de Deus e o próprio Deus.
-Como assim? – o menino se surpreendeu com o que acabara de ouvir.
-O grande Deus se fez em um homem e veio a terra!
-Nossa! Eu não sabia dessa parte! – O menino arregalava os olhos e estava claramente interessado no assunto.
-Então, vou direto a parte em que a semente foi plantada em mim. – pigarreou o idoso. – Meu avô sempre me contava um pouco da história desse Jesus. Um dia briguei com um dos meus melhores amigos e contei ao meu avô a briga. Estava bravo, irritadíssimo! Disse ao meu avô que desejava que ele morresse. Que nunca mais queria vê-lo. Então meu avô contou uma parte incrível da história de Jesus. Todas as pessoas zombaram dele, cuspiram nele, humilharam-no... E mesmo depois disso, Jesus morreu por todas aquelas pessoas. Alguns homens maus o levaram para uma cruz onde ele foi morto pendurado. Eu fiquei indignado ao ouvir aquilo que meu avô estava contando. Como poderiam ter matado alguém tão bom como Jesus daquele jeito? Então meu avô disse que ele estava plantando. Eu não entendi no começo. Mas meu avô prosseguiu. Jesus morreu para que pessoas como eu e você fossem salvas tantos anos depois. Ele morreu para nos livrar de nossos pecados... Mais que isso, para servir de exemplo como boa pessoa. Jesus foi incrível! Então eu aprendi que tenho que plantar para que as outras pessoas possam colher. Por que os que vieram antes de mim plantaram tudo o que temos hoje aqui. Certo? – o idoso estava sorrindo e satisfeito com a lição que havia acabado de ensinar.
-Certo! – respondeu o garoto satisfeito. – Mas pena que esse Jesus morreu no fim da história. Ele me parecia muito legal...
-Legal? Jesus é meu maior herói! E a história dele nunca terá fim! – exclamava o senhor. – Sei muita coisa sobre ele. Se quiser, posso te contar.
-Eu quero sim! Quero muito! – o menino estava empolgado.
E assim foi. Todas as tardes aquele senhor encontrava com o jovenzinho e contava-lhe um pouco da história de Jesus. O tempo se passou e o senhor acabou partindo para se encontrar com seu herói. Já o Jovenzinho cresceu e viu que aquele povoado não era mais seu lugar. Uns dizem que ele foi encontrar com o seu melhor amigo, o idoso. Outros dizem que ele foi para a cidade estudar. Mas na verdade, eu acredito que ele esteja por ai. Não sei onde, mas esta por ai. Está plantando... A história do bom Jesus no coração das pessoas.
MARTINS, Pierre - Araruama /RJ - 06 de Maio de 2015.